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EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 3)
Diretoria da EPM


INTERNET (pág. 4)
Avanços tecnológicos a favor da Medicina


IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS) (pág. 5)
Projeto de Lei 268/2015


INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)
Emílio Ribas - 135 anos


EPIDEMIA (pág. 7)
MERS-CoV


TRABALHO MÉDICO (pág. 8 e 9)
Violência contra profissionais de saúde


EXAME DO CREMESP (pág. 10)
Valorização da iniciativa


AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Projeto educacional


EU, MÉDICO (pág. 12)
Medicina: aprendizado & convivência


JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Hospital São Paulo


EDITAIS (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina


BIOÉTICA (pág. 15)
Dilema da Maioridade Penal


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Edição 327 - 07/2015

EU, MÉDICO (pág. 12)

Medicina: aprendizado & convivência


Médica convive e aprende com cultura indígena

Nicole Graciatelli leva seu conhecimento médico aos pacientes da UBS Vera Poty, mas respeitando as práticas indígenas


Nicole: "Atuo em uma área que poucos conhecem e ninguém quer atuar"
 

A dedicação e o exercício da Medicina para quem precisa, no lugar onde há maior necessidade de atendimento à saúde, sempre foi o objetivo profissional da médica Nicole Graciatelli. Dessa forma, assim que soube da existência de aldeias indígenas na Zona Sul de São Paulo, perto de onde residia, se interessou pelo trabalho. Ela está na UBS Vera Poty, na aldeia Tenondé Porã, localizada no extremo sul de São Paulo, há cinco anos, praticamente desde sua formação na faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em 2009.

A médica, que acabou abandonando a residência em Psiquiatria e se formando no curso de especialização em Saúde Indígena da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera que entre os índios aprendeu, principalmente, a importância das diferentes culturas. “Na nossa Medicina, na dos brancos, temos esse entendimento da ciência soberana. E se você vier trabalhar aqui, com esse pensamento, como muitos colegas já fizeram, não vai dar certo. Porque aqui há a Medicina tradicional, a dos pajés, a das plantas naturais. A gente tem que saber conviver”, diz.

As muitas crianças correndo em volta de Nicole, entrando e saindo de sua sala, mostram que esse período realmente criou uma relação profunda entre a médica e a comunidade. Ela explica que as diferenças culturais em relação aos índios se mostram também na forma com que eles recebem aqueles de gostam, e em como demonstram aceitação. “Tem que ir com jeitinho, com amor, que eu acho que é o principal ingrediente disso. Atende bem e vai sendo aceita na comunidade. Você percebe, eles demonstram. Usam muito a comunicação não verbal. É preciso entender a linguagem do olhar, do gesto. Eu atendo sempre com uma criança me ajudando, olhando as coisas. Isso é um sinal de que eles gostam, que me aceitaram, porque as mães permitem que elas fiquem aqui”.
 

Cultura

Nicole conta que uma ação importante para compreender e, depois, conviver melhor com as diferenças culturais é o estudo. Ela acredita que a antropologia, principalmente, é essencial para aprender a lidar com a cultura indígena, que é muito diferente, e gera situações que podem ser difíceis de entender quando vistas pela nossa ótica.

“A cultura indígena mudou muito a minha vida, aprendi muito com eles. Eu tenho três filhas, então, desde o parto até o cuidado com as crianças, na forma de carregar, na alimentação e dedicação, fui influenciada. Sou conhecida na família por criar as crianças mais livres, mais soltas. Aprendi isso com os indígenas. Também a maneira de a gente se comportar. Eu era uma pessoa que falava muito. Eles escutam mais, sabem a hora de falar”, relata a médica, explicando que sua vida pessoal também foi transformada com o convívio com as tribos.

Geralmente, o índio doente passa primeiro com o pajé, que indica e realiza a conduta que julga apro­pria­da, como tratamento com ervas, banhos ou fumaça. Ele também orienta se a doença é “de branco” ou “doença guarani”, a espiritual. No primeiro caso, o paciente faz o tratamento com a equipe da UBS e com o pajé ao mesmo tempo. “Às vezes, o próprio pajé vem aqui trazer o doente pra gente. Se o pajé falar que não, que é doença de índio, eles tratam com o pajé primeiro e, se não melhorar, ele vem aqui. Mas geralmente melhora quando é uma coisa espiritual”, conta Nicole.
 

Respeito

Já houve casos em que, ao se deparar com uma situação grave, um pajé chamou a equipe médica para atenderem juntos. “Aconteceram situações com crianças internadas, em estado grave, que atendemos enquanto ele fazia o que chamam de pajelança, ritual místico realizado por um pajé indígena. Isso é muito importante pra eles, e pra gente também, porque nós acabamos percebendo a importância e nos envolvendo com a cultura deles”, comenta.

Nicole atende na unidade duas vezes por semana e em outros hospitais da região nos outros dias. Também é médica apoiadora da turma de formação em Saúde Indígena da Unifesp e supervisora do Programa Mais Médicos, do governo federal, em território indígena no sul do Pará. Além disso, desde sua época de faculdade, está envolvida com projetos na área de tratamento de dependência química.
 


Saúde para os índios

Sobre a falta de médicos no trabalho com a população indígena, Nicole Graciatelli acredita que parte do cenário se deve à falta de informação sobre o assunto – como a existência de tribos na capital do Estado –, mas também que é consequência de uma cultura de formação de especialistas no País, faltando médicos para atendimento básico. Ela acredita que há, principalmente, uma questão de status profissional envolvido. “Meus colegas olham para mim como se eu fosse um ET: ‘Como assim, onde você trabalha? Você não tem medo? Os índios andam pelados?’. São sempre as primeiras perguntas. Atuo em uma área que poucos conhecem e ninguém quer atuar”, diz.

Para agosto, a médica trabalha em um projeto, em parceria com a Unifesp, para aumentar o contato dos médicos em formação com a população da aldeia. Uma turma de alunos do 5º ano do curso de Medicina irá realizar um estágio na UBS Vera Poty, com visitas mensais. Será uma oportunidade para que eles conheçam o trabalho realizado lá e, quem sabe, sejam conquistados. “Se, de uma turma de cem, um deles vier a se dedicar à saúde indígena, já está ótimo”, conclui Nicole.

 

 


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