CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Diretoria da EPM
INTERNET (pág. 4)
Avanços tecnológicos a favor da Medicina
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS) (pág. 5)
Projeto de Lei 268/2015
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)
Emílio Ribas - 135 anos
EPIDEMIA (pág. 7)
MERS-CoV
TRABALHO MÉDICO (pág. 8 e 9)
Violência contra profissionais de saúde
EXAME DO CREMESP (pág. 10)
Valorização da iniciativa
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Projeto educacional
EU, MÉDICO (pág. 12)
Medicina: aprendizado & convivência
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Hospital São Paulo
EDITAIS (pág. 14)
Informações úteis ao profissional de Medicina
BIOÉTICA (pág. 15)
Dilema da Maioridade Penal
GALERIA DE FOTOS
ENTREVISTA (pág. 3)
Diretoria da EPM
“Iniciamos a gestão na EPM com uma redução de verba de 47%”
“Estamos limitando o número de internações eletivas
por falta de insumos”
Primeira mulher na história da Universidade Federal de São Paulo a ser eleita diretora da Escola Paulista de Medicina (EPM), Emilia Inoue Sato assume o cargo no momento em que mais de 1mil médicos residentes do Complexo Hospitalar do Hospital São Paulo – hospital universitário da Unifesp – entraram em greve, no mês de junho.
Para discutir esse e outros desafios da nova gestão da faculdade, nesta entrevista ao Jornal do Cremesp, ela relata as dificuldades por que passam as instituições de saúde e educação, por conta do corte de verbas federais e estaduais para o seu gerenciamento. Também comentou a influência da questão de gênero na carreira acadêmica e a importância de um exame para avaliar a qualidade da formação em Medicina.
Emilia é médica pela EPM desde 1977, com doutorado em Reumatologia pela Unifesp. Além disso, é professora titular do Departamento de Medicina e, em sua trajetória, também passou pelo cargo de chefe do Departamento de Medicina entre os anos de 2005 e 2008.
O início de sua gestão foi marcado por uma greve dos residentes do Hospital São Paulo. Como avalia essa situação?
Assumo a EPM numa época difícil para o País e, principalmente, para as Universidades Federais, que sofreram cortes orçamentários. Iniciamos a gestão e logo fomos surpreendidos com uma redução de verba de capital da ordem de 47%. Há um subfinanciamento crônico da saúde e o Hospital São Paulo, nosso hospital universitário, tem tido dificuldade para manter o atendimento à população, com condições adequadas para o ensino e para o desenvolvimento científico e tecnológico. Tudo isso levou a uma crise importante, que se refletiu nas condições de trabalho dos mais de 1 mil residentes e na qualidade do atendimento aos pacientes. Isso culminou na decisão de limitação de internações eletivas por falta de insumos para atender a todos os pacientes, gerada pelo atraso no repasse de parte do recurso federal e pela greve dos médicos residentes, por melhores condições de trabalho.
Como avalia o fato de ser a primeira mulher na história da EPM a assumir a direção da instituição?
Evidentemente há diretoras de escolas em outras instituições, mas, em seus 81 anos de existência, a EPM ainda não tinha tido essa experiência. Creio que este é um fenômeno mundial, no qual as mulheres cada vez mais assumem cargos de liderança. Aqui, na universidade, também temos reitora, vice-reitora e diretora e vice-diretora do Campus São Paulo. Todas são as primeiras mulheres a ocuparem esses cargos. Em 1999, fui a primeira mulher a assumir a presidência da Sociedade Brasileira de Reumatologia que, à época, comemorava seu cinquentenário. Em 2008, fui a primeira mulher eleita para a chefia do Departamento de Medicina da Unifesp.
Em sua trajetória acadêmica, sofreu alguma discriminação em função da questão de gênero?
Não, nunca sofri qualquer tipo de discriminação na vida acadêmica, mas, em outras ocasiões, sim. Apesar de atualmente haver número crescente de mulheres em cargos de direção, entendo que ainda somos poucas. Acredito que, na área acadêmica, muitas vezes as mulheres não assumem cargos de direção porque estabelecem outras prioridades, e não por sofrerem preconceito. A mulher profissional vive frequentemente o dilema entre se dedicar à vida profissional ou à família.
Como essas mudanças se refletiram no ensino da Medicina?
Ao longo do tempo, nas escolas mais tradicionais de Medicina, vemos o aumento crescente de estudantes do sexo feminino. Na EPM, por exemplo, na década de 70, a participação feminina representava cerca de 30% dos alunos ingressantes. Hoje esse número chega a 43%. Apesar disso, ainda existem algumas especialidades nas quais o predomínio de homens é bastante acentuado, como nas áreas cirúrgicas, na Urologia e na Ortopedia, por exemplo. Mas, na grande maioria das especialidades, a diferença de gênero não interfere, e tanto mulheres como homens são igualmente presentes e aceitos.
Enquanto instituição de ensino médico público, a EPM tem cumprido seu papel social?
Tem cumprido sim, não só na formação de bons profissionais – nas áreas de Medicina, Fonoaudiologia, Biomedicina e Tecnologias em Saúde – como no atendimento à saúde da população, no qual tem um grande papel social a desempenhar que é o assistencial, realizado no complexo do Hospital São Paulo. Somos o maior hospital universitário público federal do País. Infelizmente, estamos em meio a uma crise e temos enfrentado dificuldades com a falta de financiamento adequado.
Considera importante a avaliação externa dos cursos de Medicina nos moldes como o Cremesp vem realizando há dez anos?
Sim. Particularmente sou favorável a uma avaliação global do graduando do curso médico, para que ele adquira o direito de exercer a Medicina com qualidade. Por outro lado, também concordo com as críticas que são feitas ao exame nos moldes do que o Cremesp vem realizando, já que se trata apenas de uma avaliação cognitiva, de conhecimento teórico. Entendo que é necessária uma prova para se aferir as habilidades práticas, o relacionamento médico-paciente e a ética. Um exame que avalie bem o candidato, de uma forma global, pois temos um aumento de escolas médicas, nem todas em condições de oferecer ensino com qualidade.
A autorização para a abertura indiscriminada de escolas de Medicina, sob a alegação de que há carência de médicos no Brasil, é justificável?
Entendo a necessidade de aumentar o número de médicos para atender a população, uma vez que a demanda é muito grande, mas acho que estamos negligenciando a qualidade. O estímulo governamental é para abrir escolas médicas. Mas não tenho visto uma grande preocupação em controlar a qualidade do produto final, que é o médico. Nesse sentido, a abertura de novas escolas não se justifica porque, mesmo se houver um número maior de médicos, sem uma política para que esses profissionais se estabeleçam em regiões mais carentes, ou que tenham a possibilidade de desenvolver uma carreira dentro do Estado, de nada vai adiantar. Vamos formar mais médicos que continuarão se fixando em centros urbanos, e as áreas carentes permanecerão sem profissionais.