CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp
ENTREVISTA (pág. 3)
Tomas Salerno
FORMAÇÃO MÉDICA (pág. 4)
Capacitação à distância
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS) (pág. 5)
Regularização de Débitos
INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 6)
Hospital Filantrópico
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE (pág. 7)
Núcleo de Apoio Técnico e de Mediação
ESPECIALIDADES (págs. 8 a 9)
Valorização profissional
AUDIÊNCIA PÚBLICA (pág. 10)
Superlotação de hospitais
AGENDA DA PRESIDÊNCIA (pág. 11)
Avaliação acadêmica
EU, MÉDICO (pág. 12)
Conexão Brasil-Nepal
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
Residência Médica
SANTAS CASAS (Pág. 14)
Acesso à saúde: Meu direito é um dever do governo
BIOÉTICA (pág. 15)
Ética em pesquisa
GALERIA DE FOTOS
EU, MÉDICO (pág. 12)
Conexão Brasil-Nepal
Terremoto leva médico brasileiro de volta ao Nepal
“Sou eu e apenas outro ser humano. É a forma mais pura de
exercer a minha profissão”
“O que tem de ser engrandecido é o gesto do povo de lá.
Estavam sem casa, sem nada, mas ainda assim eram capazes
de nos olhar e sorrir”
Luiz Perez pretende se dedicar ao projeto Conexão Brasil-Nepal
Quatro dias após o terremoto que atingiu o Nepal, ocorrido em 25 de abril deste ano, o médico dermatologista brasileiro Luiz Perez embarcou para o país asiático, para uma estadia de duas semanas, junto a uma equipe formada por mais quatro médicos. A iniciativa foi motivada pelo envolvimento pessoal de Perez com o país, o qual já havia visitado duas vezes anteriormente, e realizada com a ajuda de doações angariadas principalmente pela internet.
“O que tem de ser engrandecido é o gesto do povo de lá. Estavam sem casa, sem nada, mas ainda assim eram capazes de nos olhar e sorrir”, relata Perez.
Ele não considera, em nenhum momento, que o projeto tenha sido algum tipo de sacrifício, pelo qual mereça destaque, e enfatiza que o ato também é uma questão de oportunidade. “Eu tive a chance de ir pra lá. Quantas pessoas não gostariam de ir, mas tem um emprego fixo, ou algo do tipo, e não podem?”, questiona. Para viajar, o dermatologista fechou a agenda de consultas e transferiu as cirurgias já marcadas para outros colegas da clínica onde atendia.
Pelo mundo
Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp), Perez acredita que ele e a irmã, que também é médica, foram influenciados, na escolha da profissão, pelos avós maternos. “Tanto meu avô quanto minha avó, sempre sonharam em ser médicos, mas não tiveram condições para isso. Acabamos, de alguma forma, realizando esse sonho”, conta.
Todavia, após o primeiro ano da faculdade, o médico trancou o curso e viajou pelo mundo durante um ano – e assim se deu seu primeiro contato com o Nepal, em 2006. Perez trabalhou quatro meses na Europa e, com o que ganhou, passou por diversos países do Sudeste Asiático. “Quando eu estava na Índia, não gostei da experiência, queria voltar para casa, tudo era muito barulhento e atrapalhado para mim. Foi então que passei em frente a uma agência de viagens, que anunciava uma ida e volta à capital do Nepal por 60 dólares. Como a volta seria por Nova Deli, sairia mais barato que uma viagem até lá pelo percurso tradicional, para embarcar no avião de volta à Europa e, depois, para o Brasil”, explica. Encantado com o povo e a cultura, voltou ao país em 2011, dessa vez com o pai.
Depois de se formar, o médico trabalhou cerca de seis meses no pronto-socorro do hospital público de Fernando de Noronha, entre idas e voltas. “Inicialmente, eu iria para ficar um mês. Quando cheguei, encontrei a melhor equipe que já tinha visto, um pessoal incrível que supria a falta de recursos do hospital”, relata. Voltou para São Paulo no segundo semestre de 2011, com o objetivo de estudar para a Residência. “Fiquei na dúvida se ia prestar medicina esportiva ou dermatologia, mas pensei que se escolhesse a primeira não teria a opção de me envolver com a outra depois. Dermatologia me dá acesso aos dois ambientes”. Atualmente, trabalha em uma clínica de medicina esportiva, onde prepara seu consultório de dermatologia.
Nepal
Durante a estada no Nepal após o terremoto, Perez e seus colegas conseguiram chegar a vilarejos ao norte de Katmandu, capital do país, onde apenas helicópteros que retiraram alguns pacientes haviam conseguido chegar. Lá encontraram pessoas com fraturas, feridas abertas, que deveriam ter sido suturadas uma semana antes, e infecções. Conseguiram também vacinar mais de 300 pessoas contra o tétano.
Segundo ele, o foco da ação de ajuda àquele país já é outro. O atendimento médico era essencial logo após o terremoto, mas agora, em meio à reestruturação, o país deve receber as grandes monções, tendo ainda grande parte dos edifícios e moradias destruídas. Pensando nisso, Perez continua em contato com uma fundação que trabalha localmente, e está articulando, a partir do Brasil, a arrecadação de fundos para serem enviados ao país. O desenvolvimento do projeto pode ser acompanhado pelo instagram da iniciativa (@conexaobrasilnepal).
O médico pretende voltar ao Nepal em agosto, mas sem utilizar o dinheiro arrecadado. A viagem ocorrerá com o apoio de uma produtora holandesa, que, durante a estada de duas semanas do grupo em maio, filmou o documentário Eerste Hulp in Nepal (Primeiros-Socorros no Nepal, em livre tradução), com direção de Jessica Villerius, documentarista e amiga de Perez, exibido por uma TV local europeia e já disponibilizado gratuitamente online, com legendas em português, no endereço https://vimeo. com/129218638
“Lá eu encontrei um povo civilizado, resiliente e caridoso. Então, se existe algo que posso fazer agora, em resposta a gestos tão generosos das pessoas que nos receberam e ajudaram, é fazer com que essa atitude se transforme em teto, comida, escola. Estar lá, colocando gesso em uma fratura, é um gesto muito inferior ao de um senhor, em um lugar quase sem comida, me oferecer um prato cheio de alimento”, declara o dermatologista.
Planos futuros
Além de continuar seu trabalho com medicina do esporte e dermatologia, Perez pretende se envolver mais com expedições. “Quero me dedicar ao máximo ao projeto Conexão Brasil-Nepal, e me envolver cada vez mais com projetos alternativos. Consultório é uma forma de eu ter segurança financeira, mas não quero que minha vida seja apenas isso”, diz.
O médico conta que vai participar de um curso de atendimento a paciente politraumatizado em ambiente fora do hospital, o que pode prepará-lo tanto para outro momento de catástrofe, quanto para trabalhar com medicina esportiva, em modalidades como corridas de aventura. “Ter participado e observado o trabalho nas montanhas me fez perceber, principalmente, essa relação de não manter vínculo empregatício nem financeiro. Sou eu e apenas outro ser humano. É a forma mais pura de exercer a minha profissão”, declara.