CAPA
EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho*
ENTREVISTA (pág. 3)
Marcos da Costa, presidente da OAB-SP
ÉTICA (pág. 4)
Conflitos de interesse
CAMPANHA (pág. 5)
Mobilização em apoio às Mães da Sé
CONSULTA (pág. 6)
Código de ética e publicidade
CONFEMEL (pág. 7)
Capital estrangeiro
SUS (pág. 8)
Mobilização
FINANCIAMENTO (pág. 9)
Programa de Aceleração do Crescimento
INSTITUIÇÕES (pág. 10)
Hospital de Câncer de Barretos
AGENDA (pág. 11)
Atividades do Cremesp
EU, MÉDICO (pág. 12)
Vida profissional x vida pessoal
JOVENS MÉDICOS (pág. 13)
II Fórum do Médico Jovem
BIOÉTICA (pág. 15)
Herança genética
ENSINO MÉDICO (pág. 16)
Código de Ética e Estudantes
GALERIA DE FOTOS
BIOÉTICA (pág. 15)
Herança genética
Decisão de Angelina Jolie reabre debate sobre cirurgias
por riscos genéticos
Ato tem incentivado usuárias de planos de saúde a exigir
cobertura de alguns testes,
o que foi validado por nota técnica da ANS, de 2014
A decisão recente da atriz norte-americana Angelina Jolie de se submeter a procedimento cirúrgico para retirar as tubas uterinas e ovários, dois anos depois de passar por mastectomia bilateral preventiva, reacendeu polêmicas bioéticas diversas. As questões estão relacionadas ao uso de probabilidades genéticas como determinantes para condutas médicas e ao acesso a testes por pacientes de grupos de risco, entre outras.
Ao conhecer os argumentos de Angelina, em editorial escrito por ela no New York Times (veja nota abaixo), pode-se supor que a atriz tomou decisão compatível com a ciência médica, por conta de histórico familiar, associado a mutações genéticas. E da própria (falta de) condição emocional de enfrentar o risco de câncer de ovário, doença que matou a mãe ainda jovem. Além disso, tia e avó também sucumbiram a tumores.
Angelina pôde ser atendida em seu desejo por conta de suas possibilidades sociais e financeiras. Testes decisivos para averiguar a mutação no gene BRCA1 e BRCA2 (supressores de tumor, cuja função se relaciona a aspectos como reparo de danos ao DNA), custam em torno de R$ 6 mil, caro para a maioria das mulheres. “Há uma eugenia no acesso”, lamenta o oncogeneticista José Cláudio Casali da Rocha – entendendo-se aqui “eugenia” como a discriminação de pessoas por categorias.
“Mesmo as que se propõem a arcar com os custos de testes genéticos esbarram em impossibilidades, já que, no Sistema Único de Saúde (SUS), sequer há código para definir mastectomia profilática”, explica Casali. O médico criou o primeiro núcleo de aconselhamento genético a pacientes oncológicos do SUS, no Hospital A.C.Camargo, em 1998, e dirige o serviço de Oncogenética do Hospital Erasto Gaetner, em Curitiba, casos raros na esfera pública.
Veredito?
Um dos méritos de Angelina foi atiçar usuárias de planos de saúde a exigir cobertura de alguns testes, o que foi validado em 2014 por nota técnica da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) (veja box), mas distante de, na prática, se tornar realidade. “Angelina Jolie levanta novamente a questão dos testes genéticos para o câncer hereditário. Deveriam estar disponíveis para todos”, opinou em seu twitter Mayana Zatz, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
Já Leila Jamal, conselheira genética pela Johns Hopkins University, argumentou, em boletim da universidade: “a avaliação cuidadosa de histórico familiar deve preceder o teste genético, para minimizar o risco de resultados adversos de testes inadequados, que incluem recomendações médicas imprecisas e gastos desnecessários à saúde”.
Além disso, traços genéticos não significam um veredito para um câncer. “Estão presentes desde o nascimento, mas é possível adotar medidas preventivas para manter ‘o interruptor desligado’”, diz Casali da Rocha. Essas ações englobam desde exames clínicos e laboratoriais de rotina, quando indicados, até mudanças no estilo de vida e de hábitos nocivos, como fumar e beber em excesso.
Conflitos
Não se pode esquecer, ainda, que cirurgias radicais não são inócuas e que, além de dissabores físicos, uma mutilação pode gerar danos psicológicos, capazes de levar médicos e pacientes a conflitos.
“A portadora de mutação tem um risco altíssimo de desenvolver câncer de mama (85%) e de ovário (60%). Pacientes com essa característica e que pertencem à uma família com forma hereditária de câncer de mama têm todo o direito de fazer cirurgias preventivas”, diz Carmen Sílvia Bertuzzo, professora da Unicamp, que atua no ambulatório de Oncogenética do Hospital das Clínicas daquela Universidade. “O que não pode é o médico decidir pela cirurgia: quem escolhe é a paciente, depois de orientada. Assim, sua autonomia é preservada”, explica.
Os motivos de Angelina
- “Exames de mutação no gene BRCA1 me deram uma estimativa de risco de 87% de ter câncer de mama e 50% de ter câncer de ovário (...)”;
- “Não tomei a decisão porque carrego mutação genética. Falei com muitos médicos cirurgiões e naturopatas (...) que concluíram: remover minhas trompas e ovários seria a melhor opção”;
- “A coisa mais importante é conhecer as opções e escolher o que é certo para você”;
- “Conhecimento é poder”.
Nota da ANS
A ANS divulgou Nota Técnica nº 876, de dezembro de 2013, indicando cobertura de 22 testes genéticos (veja no site www.ans.gov.br), que incluem os destinados a detectar cânceres de mama e ovário hereditários, por meio de mutação nos genes BRCA1 e BRCA2. Em tese, deveriam estar disponíveis nos convênios a mulheres com diagnóstico atual ou prévio de câncer de mama, quando preenchido critérios como apresentarem dois parentes de 1° e 2° graus do mesmo lado da família (pai ou mãe) com diagnóstico de câncer de mama abaixo de 50 anos; ou três parentes, abaixo de 60 anos.
Em relação ao câncer de ovário, o exame seria obrigatório, por exemplo, mediante diagnóstico de câncer de mama em qualquer idade; ou quem tem parente de qualquer grau, com diagnóstico de câncer de ovário, em qualquer idade.