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Marcos Boulos


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Boas práticas obstétricas


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Decisões na adolescência


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Edição 322 - 01-02/2015

ENTREVISTA (pág. 3)

Marcos Boulos


“Se tivéssemos combatido o Aedes a tempo,
não teríamos epidemia”

“Sabemos que é o atraso no tratamento que leva à mortalidade.”

 

A transmissão da dengue e da chikungunya é feita através da picada do Aedes aegypti infectado. No entanto, a maioria dos municípios do Estado de São Paulo não mantém um grupo técnico para o controle do mosquito, propiciando sua disseminação e a explosão da epidemia.

Um dos mais conceituados infectologistas do País, o professor titular do Departamento de Molésticas Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, coordenador da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) e conselheiro do Cremesp, Marcos Boulos, afirma que a infestação pelo mosquito está em níveis bastante elevados há algum tempo e teve um aumento triplicado neste verão. Para ele, a epidemia é resultado de um combate ainda inadequado. Por isso, acredita que, mesmo sem casos detectados neste ano, a infecção de chikungunya no Estado é uma questão de tempo.
 

 

O número de casos de dengue em SP quase triplicou neste início de 2015 (em janeiro de 2014 eram de 45; e no mesmo mês deste ano, 120. Já os casos suspeitos passaram de 472 para 1.304, segundo a Prefeitura. Até que ponto o armazenamento de água em razão da crise hídrica é o problema? O que está acontecendo de fato?

A despeito de reserva de água de maneira inadequada favorecer a proliferação do Aedes aegypti, este não é fator preponderante na “explosão” dos casos de dengue. A infestação do Aedes no Estado está em níveis bastante elevados há algum tempo. Isso somado ao fato de não ter havido interrupção da transmissão no ano de 2014 (como sempre acontece nos invernos) e ao início de chuvas, que propiciam mais criadouros, foram os fatores mais importantes.

 

A Secretaria de Estado da Saúde afirma que há dificuldade, por parte dos médicos, em reconhecer os sintomas da doença. Por quê?

O Centro de Vigilância Epidemiológica da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CVE-SES/SP) oferece treinamento todo ano aos médicos. Em 2014 tivemos as eleições e, com isso, muitos recursos foram desviados da assistência médica, reduzindo inclusive o número de médicos. E a troca de profissionais de saúde nos prontos-socorros fez com que a “memória” do acontecido em anos anteriores fosse perdida e a doença aparecesse como novidade para boa parte dos profissionais. E sabemos que o atraso no tratamento é que leva à mortalidade. Se tivéssemos combatido o vetor há tempo, não teríamos a epidemia.

 

O Estado de SP teve 38 mortes por dengue em janeiro, enquanto 87 foram registrados ao longo de 2014. Como o médico po­de evitar o aumento complicações nos casos de dengue em São Paulo?

Com diagnóstico precoce que permite tratamento a tempo. Quando isso não é possível, é preciso hidratar rapidamente o paciente contaminado porque a maioria das mortes ocorre por perda de sangue e de líquido. Grande parte dos casos não é grave, como os de dengue hemorrágica. Mas é preciso agir rápido. O óbito por dengue tem ocorrido em maior número com idosos e crianças.

 

Há alguma forma de conter a migração do vírus?

Infelizmente não. O trabalho fundamental para a contenção de epidemias de dengue tem que ser rea­lizado antes do início da mesma com ação contra o vetor. A maioria dos municípios não mantém grupo técnico para o controle do mosquito, propiciando sua disseminação e explosão da epidemia.

 

Como vem se comportando a manifestação de dengue na Capital? E no Estado?

As manifestações clínicas são as mesmas nos últimos anos e a disseminação está por todo o Estado com mais de 600 municípios infestados. Temos tido focos importantes em São José do Rio Preto, Catanduva e Marília. O número de casos tem crescido em Campinas e na Capital. Em Marília e Catanduva, por exemplo, havia um número pequeno de pessoas infectadas na pré-epidemia. Em Catanduva,  eram apenas cinco casos no ano passado e agora já existem 220. Se tivessem combatido mais criadouros – com equipes de Combate à Dengue desenvolvendo um minucioso trabalho de inspeção nas casas e em outros locais –, essa epidemia local poderia ter sido evitada. Agora, só no próximo inverno será possível começar um novo programa, antes do surgimento de uma nova explosão de casos na cidade.

 

A febre chikungunya chegou ao Estado de São Paulo no ano passado, com alguns casos no Interior. Neste ano, ainda não foi registrado nenhum, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Podemos dizer que ela está restrita a algumas localidades no Brasil? Até que ponto São Paulo está livre da mesma?

Surpreendentemente, a epidemia de chikungunya não chegou (ou não foi detectada), neste início de ano, no Estado de São Paulo, apesar de todas as condições para que isso ocorra. Isso aconteceu provavelmente porque não veio ninguém infectado das cidades de Feira de Santana (BA) ou do Macapá (PA), locais onde foram detectados casos da doença no Brasil. Pode ser também que a doença não tenha sido diagnosticada em São Paulo por sua semelhança com a dengue. Mas acredito que a infecção de chikungunya por aqui é questão de tempo.

 

 

Veja na íntegra o alerta sobre dengue da CVESES/SP

 


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