CAPA
EDITORIAL (JC pág. 2)
A revalidação da certificação médica obtida no exterior, por Luiz Alberto Bacheschi
ENTREVISTA (JC pág. 3)
Expedicionários da Saúde: heróis anônimos à frente do terremoto no Haiti
ATIVIDADES 1 (JC pág. 4)
O reconhecimento pelos 50 anos dedicados integralmente à prática da Medicina
ATIVIDADES 2 (JC pág. 5)
Já estão programados novos encontros entre os presidentes dos CRMs e a diretoria do CFM
ÉTICA & JUSTIÇA (JC pág. 6)
A publicidade médica e a atuação das Comissões de Divulgação de Assuntos Médicos
LEGISLAÇÃO (JC pág. 7)
Cartões de descontos e a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.939
ESPECIAL (JC pág, 10)
Levantamento realizado pelo Cremesp mostra a distribuição dos médicos no Estado
ARTIGO (JC pág. 10)
A emissão de receitas médicas e a prescrição de medicamentos controlados
ICESP (JC pág. 11)
Instituto do Câncer: priorização dos pacientes conforme os recursos clínicos de última geração
GERAL (JC pág. 12)
Acompanhe a agenda de cursos e eventos em diversas especialidades
CFM (JC pág. 13)
Coluna dos representantes do Estado no Conselho Federal de Medicina
ALERTA ÉTICO (JC pág. 14)
Análises do Cremesp ajudam a prevenir falhas éticas causadas pela desinformação
PRESIDÊNCIA (JC pág. 15)
Confira a participação do Cremesp em eventos relevantes para a classe
ESPECIALIDADE (JC pág. 16)
Uma pausa para conhecer a Câmara Técnica Interdisciplinar de Bioética e o Centro de Bioética do Cremesp
GALERIA DE FOTOS
CFM (JC pág. 13)
Coluna dos representantes do Estado no Conselho Federal de Medicina
A relação médico-paciente
Desiré Carlos Callegari
e-mail: desireimprensa@cfm.org.br
A boa relação médico-paciente, o conhecimento e o aprimoramento da profissão, aliados ao cumprimento dos preceitos éticos e bioéticos, são hoje os pilares para o exercício da medicina.
A própria história do desenvolvimento da arte médica nos mostra a importância de resgatarmos a humanização sem menosprezar os avanços tecnológicos.
A medicina ocidental, em sua origem, era essencialmente humanística. Suas raízes se assentavam na filosofia e na natureza. Seu sistema teórico partia de uma visão holística, que entendia o homem como um ser dotado de corpo e espírito, inserido num contexto maior. As doenças eram consideradas consequência do desequilíbrio na interação entre o homem (vítima da enfermidade) e a natureza que o rodeava. Essa era a lei universal, que no entendimento à época, repercutia o bem-estar de cada indivíduo.
A partir da compreensão desta relação – idealmente harmônica, o médico seria capaz de diagnosticar a verdadeira causa da doença, assim como sua cura. Isso o tornava, fundamentalmente, um humanista pelas circunstâncias. Foi com base neste escopo que se alinharam os parâmetros fundamentais do modelo do médico hipocrático. Ou seja, um médico deveria estar ancorado sobre dois pilares mestres para o exercício da medicina: a história com o exame físico e, em especial, a relação médico-paciente.
Esta relação favorecia a extração de todas as informações que norteariam a formulação do diag¬nóstico e das consequentes opções terapêuticas. Assim, o médico era um homem que aliava conhecimentos científicos e humanísticos na prática profissional. Era visto como profundo conhecedor da alma humana, em grande parte pela proximidade com seus pacientes, desenvolvendo com eles uma relação extremamente benéfica para a boa condução de cada caso.
O médico de então era também um homem respeitado, pois o ato de “curar”, exercido por ele, não era apenas técnico, mas humano-científico. Esse foi o modelo adotado pelos médicos do Ocidente, que se perpetuou, historicamente, com a evolução da medicina. Estes avanços aconteceram, associados ao crescente desenvolvimento tecnológico, o que gerou mudanças na forma de atuação dos médicos e na sua formação acadêmica.
Com isso, mudou a percepção da medicina, que passou a ser vista como uma ciência exata e biológica, perdendo pouco a pouco o seu caráter humanístico, pois a adoção de uma vasta gama de recursos tecnológicos e de condutas já não dependia diretamente de uma boa relação médico-paciente. Dessa forma, a necessidade de desenvolver uma estreita relação com o paciente para um diagnóstico correto e uma terapêutica adequada foi sendo, gradativamente, substituída pela solicitação e execução de exames e medicamentos cada vez mais sofisticados.
Estava, então, criado o conceito do médico cientificista, ou seja, o profissional que não mais utilizava os princípios hipocráticos para a condução de cada caso, mas se baseava apenas em evidências clínicas e tecnológicas que propiciassem um diagnóstico. O novo modelo enquadrou uma forma de atuação no exercício da medicina, que comprometeu o relacionamento que os profissionais desenvolviam com seus pacientes. Com o novo paradigma, não se apregoava uma visão holística, mas a segmentação. Os pacientes, antes vistos como indivíduos únicos com patologias próprias, tornaram-se seres com doenças.
Essa degradação do relacionamento médico-paciente, além de influenciada por esse modelo cientificista, foi também estimulada pelo interesse materialista cada vez maior de alguns médicos, assim como pela pressão exercida sobre os profissionais, seja pela precarização do trabalho e a falta de estrutura na saúde pública ou pela baixa remuneração e o foco no mercado no setor privado. Em ambos os contextos, pela precariedade assistencial ou pela priorização do lucro, desnorteia-se o vínculo de confiança entre o paciente e o médico.
Ora, o médico e o paciente devem estabelecer parceria em busca de um objetivo comum: desenvolver e efetivar um plano terapêutico. Mas para que o êxito se configure é importante que o diálogo se estabeleça. O resgate dessa relação médico-paciente, até então desvalorizada, como forma de complementar a ênfase dada aos recursos tecnológicos, surge como opção de se re-humanizar a prática da medicina amparada sobre um novo paradigma, onde os dois modelos – o hipocrático e o cientificista – se encontram e se complementam.
Um ano para fazer diferença
Renato Françoso Filho
São quase três meses e 2010 caminha a passos largos. Festas, férias, verão e Carnaval. Entre comemorações e folia, talvez alguns mais afoitos venham a dizer: “só perdemos tempo até agora”.
Quero discordar daqueles que pensam assim. Ao menos no meio médico, avançamos bastante, a despeito do calendário entrecortado de feriados e festejos para todos os gostos.
O Conselho Federal da Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) estabeleceram, em tempo recorde, uma pauta mínima para unificar as lutas do movimento. O resultado é que os profissionais de medicina, suas entidades representativas estaduais e as sociedades de especialidades sabem bem quais são as principais reivindicações que demandarão esforços e união para chegar a bom termo.
Começamos pela regulamentação da medicina, em trâmite no Senado Federal, após aprovação histórica na Câmara dos Deputados em outubro de 2009. É mister que todos os médicos brasileiros realizem um trabalho de convencimento junto aos parlamentares que ajudarem a eleger, para sensibilizá-los sobre a importância de o projeto de lei ser aprovado o mais breve. A regulamentação – vale um parêntese – é relevante a todos: favorece a prática legal e responsável da medicina, harmoniza ainda mais as relações na equipe multidisciplinar de saúde, além de garantir aos cidadãos mais segurança à assistência.
Outra prioridade para 2010 é aprovar no Congresso Nacional a carreira de Estado para os médicos. Trata-se de um antigo anseio da classe, que agora pode se tornar realidade por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 454/09, dos deputados Eleuses Paiva, ex-presidente da Associação Paulista de Medicina e da Associação Médica Brasileira, e Ronaldo Caiado. A PEC cria a carreira nos serviços públicos federal, estadual e municipal, estabelecendo, simultaneamente, remuneração inicial da categoria em R$ 15.187,00, por 40 horas semanais em regime de dedicação exclusiva, semelhante a de juízes e promotores.
Temos também possibilidades concretas de finalmente obter a aprovação da Emenda Constitucional 29, que define parâ¬metros para a destinação de recursos à saúde. O ano de 2010 é eleitoral. Portanto, devemos usar pressão e o poder do voto para chegar a resultados favoráveis em questões de interesse não apenas da classe, mas do Brasil e de seu povo.
Enfim, coesos e com as principais metas bem definidas, poderemos alcançar vitórias significativas. Temos pela frente Páscoa, Copa do Mundo, férias de inverno, eleições e fim de ano. Que venham todas as comemorações. O importante é continuar trabalhando firme para que a grande festa tenha como principal motivo uma medicina melhor, mais valorizada e saúde digna para os brasileiros.
*Desiré Carlos Callegari (titular) e Renato Françoso Filho (suplente) são representantes do Estado de São Paulo no Conselho Federal de Medicina